domingo, 24 de janeiro de 2010

Não adianta nem me abandonar
Por que mistérios sempre há de pintar por aí
Pessoas até muito mais vão me amar
Até muito mais difíceis
Que eu pra você

Esotérico - Milton Nascimento e Ronaldo Bastos





Vai ser assim, nós vamos nos olhar e engolir aquela vontade de ocuparmos o tamanho de um no espaço. Vamos engolir, a goles grandes, todo o impulso de corremos para o braço alheio e virar o mundo de pernas pro ar com um beijo. Você viria, sem freio, na minha direção e meu ar iria ser rarefeito. Eu ia tentar fugir de um lado e me entregaria, sem pensar, do outro. Porque eu rodo, rodo e paro em você. Paro na direção certa dos teus olhos, na certeza absoluta do meu encanto por você.
Por que é tudo culpa dessa coisa que invade a gente, não é? O brilho, como você diz. Umas doses aqui, outras ali e uma desculpa perfeita para todas as nossas escapulidas. Você diz que não é bom com isso de explicar e eu detono meia dúzia de frases orgulhosas, cheias de falsas certezas e saímos como se nada tivesse ocorrido. Eu volto a minha vidinha agitada e você a sua conturbada sessão de amor,depois de nos perdermos nas loucuras de sentir. Eu sinto, sabe? Sinto muito. Sinto tanto te dizer coisas que eu não quero, fazer cara de mulher controlada e sorrir pra você, enquanto a verdade reverbera nos meus olhos pequenos demais para serem compreendidos pela tua falta de experiência. É mais fácil nos perdermos e cumprimentarmos os convidados do que assumir toda essa semente de vulcão instalada nos nossos poros. É mais saudável, entenda.
Sorria, isso, continue. Acene agora e faça essa pose de bom amigo, dedicado. É o preço da loucura, a consequência do instante e as danadas das tantas possibilidades. Eu e você envoltos nessas armadilhas do destino, completamente lambuzados dos tantos personagens que interpretamos ao longo da noite só para contradizer o dia em que você bateu naquela porta e trouxe mais cerveja para brindarmos nós dois. Eu falava, falava e você não entendia metade das minhas entrelinhas histéricas e só focava nas tuas descobertas a cada pedaço meu desvendado, alheio a qualquer sinal extra de aventura.
Agora, enquanto as palavras caem de mim e as lembranças estão indo de volta para casa, vou me virar e acompanhar os convidados. A festa já está quase no fim e eu ainda tenho muito o que te querer. Mas, isso, ah, isso é coisa que a gente inventa.


Até o próximo.

2 comentários:

  1. "O nosso amor a gente inventa pra se distrair, e quando acaba, a gente pensa, que ele nunca existiu"

    :)

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  2. 'É mais fácil nos perdermos e cumprimentarmos os convidados do que assumir toda essa semente de vulcão instalada nos nossos poros. É mais saudável, entenda.'

    Clara, um dos trechos mais cheios que li nos últimos tempos. A semente do vulcão cresce e brota, inevitavelmente.

    um beijo :*

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