sábado, 17 de outubro de 2009

Repartida


Um milhão de rosas dentro da caneca sobre a mesa. Pouco espaço para tanta vontade de voar, com meus braços machucados.
Ou eu faço isso ou morro. Ou me abraço, ou me largo.
As paredes me enforcam e quando o céu é azul gelado, nem mais uma dose de whisky pode me tornar uma cobaia bem fundamentada. E então, meu futuro é uma asa voando enquanto o meu corpo pesa na cama.
Se eu fosse uma estrela de cinema, me diz se aquele cara faria sentido. Se eu tivesse a leveza de duzentas horas de continuidade, você sabe, eu não teria saudade do que não preciso. O que eu preciso está aqui. Mas frases de auto-ajuda não me baseiam, não me descobrem, não me botam no lugar onde vivia. Numa mentira altíssima, numa loucura apenas impossível de ser abraçada. Não só um cavalo selvagem, mas também uma ameaça fatal. Se me pegasse, eu mataria tua inocência também. Que de virgindade, não restaria nem o pouco da pureza. Que se havia de me guardar, não foi possível nem com tapa na cara, nem com gelo entre as pernas. E cada minuto, cada palavra servia, de fato, pra me colocar de quatro e caída no banheiro. Mas ser essa vítima, ser um pedaço de colo partido, não me faz ficar, não me torna mulher.

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Gabriele Fidalgo

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