quinta-feira, 11 de março de 2010
O Tempo da Cor Branca
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Confesso
Você não me conhece
Eu tenho que gritar isso
Porque você tá surdo
E não me ouve
A sedução me escraviza você
Ao fim de tudo você permanece comigo
Mas preso ao que eu criei
E não a mim
E quanto mais falo sobre a verdade inteira
Um abismo maior nos separa
Você não tem um nome
Eu tenho
Você é um rosto na multidão
Eu sou o centro das atenções
Mas a mentira da aparência do que eu sou
E a mentira da aparência do que você é
Por que eu não sou o meu nome
E você não é ninguém
O jogo perigoso que eu pratico aqui
Ele busca chegar ao limite possível de aproximação
Através da aceitação da distância
E do reconhecimento dela
Entre eu e você existe a notícia
Que nos separa
E eu quero que você me veja nu
Eu me dispo da notícia
E a minha nudez parada te denuncia e te espelha
Eu me delato
Tu me relatas
Eu nos acuso
E confesso por nós
Assim me livro das palavras com as quais
Você me veste.
Fauzi Arap
Abri a gaveta, um dia desses. Aquela dos papéis sagrados. Uma carta aqui, um texto ali e um saquinho com todas as nossas lembranças que puderam ser escritas. Desenhos, palavras arrancadas do peito, aquela nota fiscal e um cartão que, na verdade, nunca foi escrito por você. Eram lembranças tão sagradas que perderam o gosto. Tão bem guardadas que desapareceram no meio de tantos outros papéis-amor. Um aglomerado de poemas que nem faziam sentido, nem tinham gosto e nem provocavam qualquer tipo de sensação. Porque, hoje, você é assim: não me provoca sensações. Nenhuma. Resquícios da tua mão na minha pele é uma ilusão que ainda tento guardar só para que, ao final de todos os imprevistos e desfechos, eu possa dizer que as minhas invenções eram doces o suficiente para não azedar.
Mas até as ilusões passaram como todas as ideias sem destino, rápidas feito vulcão. Nada sobrou, nem alimento para essas linhas.
Eu continuo viva, pulsando. Já você sem rosto, sem gosto e sem texto, limitado aos espaços das folhas amareladas.
Fevereiro. Lembranças. 2010.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Libertar, Respirar, Partir, Ultrapassar
domingo, 24 de janeiro de 2010
Por que mistérios sempre há de pintar por aí
Pessoas até muito mais vão me amar
Até muito mais difíceis
Que eu pra você
Esotérico - Milton Nascimento e Ronaldo Bastos
Vai ser assim, nós vamos nos olhar e engolir aquela vontade de ocuparmos o tamanho de um no espaço. Vamos engolir, a goles grandes, todo o impulso de corremos para o braço alheio e virar o mundo de pernas pro ar com um beijo. Você viria, sem freio, na minha direção e meu ar iria ser rarefeito. Eu ia tentar fugir de um lado e me entregaria, sem pensar, do outro. Porque eu rodo, rodo e paro em você. Paro na direção certa dos teus olhos, na certeza absoluta do meu encanto por você.
Por que é tudo culpa dessa coisa que invade a gente, não é? O brilho, como você diz. Umas doses aqui, outras ali e uma desculpa perfeita para todas as nossas escapulidas. Você diz que não é bom com isso de explicar e eu detono meia dúzia de frases orgulhosas, cheias de falsas certezas e saímos como se nada tivesse ocorrido. Eu volto a minha vidinha agitada e você a sua conturbada sessão de amor,depois de nos perdermos nas loucuras de sentir. Eu sinto, sabe? Sinto muito. Sinto tanto te dizer coisas que eu não quero, fazer cara de mulher controlada e sorrir pra você, enquanto a verdade reverbera nos meus olhos pequenos demais para serem compreendidos pela tua falta de experiência. É mais fácil nos perdermos e cumprimentarmos os convidados do que assumir toda essa semente de vulcão instalada nos nossos poros. É mais saudável, entenda.
Sorria, isso, continue. Acene agora e faça essa pose de bom amigo, dedicado. É o preço da loucura, a consequência do instante e as danadas das tantas possibilidades. Eu e você envoltos nessas armadilhas do destino, completamente lambuzados dos tantos personagens que interpretamos ao longo da noite só para contradizer o dia em que você bateu naquela porta e trouxe mais cerveja para brindarmos nós dois. Eu falava, falava e você não entendia metade das minhas entrelinhas histéricas e só focava nas tuas descobertas a cada pedaço meu desvendado, alheio a qualquer sinal extra de aventura.
Agora, enquanto as palavras caem de mim e as lembranças estão indo de volta para casa, vou me virar e acompanhar os convidados. A festa já está quase no fim e eu ainda tenho muito o que te querer. Mas, isso, ah, isso é coisa que a gente inventa.
Até o próximo.